quarta-feira, 16 de junho de 2010

Olhares agudos.

Cansada, e sem tempo até pra ficar entediada. Ah, e não aguento mais ouvir/falar/ler/assistir sobre a África. É incrível como a África agora se torna o "berço" do mundo, como diria o papagaio do Galvão Bueno, "os olhos do mundo voltados para a África". Os olhos. O segredo está aí. Todos olham, assistem e compactuam com a miséria evidente no continente: olham e não fazem nada - afinal pra quê fazer algo? A copa é agora. Ser africano agora é moda. Ver Shakira dançando e cantando a pior e mais fútil música da vida dela "é um espetáculo". Afro fusion pra cá. Rei Zulu pra lá. E os africanos, a grande 'maioria minoritária' ficam de fora da festa, pois não têm como pagar a entrada no estádio, não têm uma TV de plasma com pipoca e cerveja ao lado, ou uma 'nica' pra comprar uma vuvuzela.

E nós?

Ainda é preciso lembrar de nós, brasileiros, que nos tornamos patriotas de 4 em 4 anos, um país de "todos", "lutando por um único ideal" - como nas propagandas de TV. - na torcida pelo hexa. E fechemos cada vez mais os olhos para as fraudes de concurso DA POLÍCIA, para o fanatismo que move "montanhas" e tampas de cova - tudo em nome da fé e da santificação.
Fechemos também os olhos pro nosso comportamento egoísta, afinal é a única época do ano que "esquecemos" da política e do senso crítico adormecidos ou inexistentes dentro de cada um de nós. Juntemo-nos em um boteco, organizemos festas banhadas a licor, canjica e arroz doce e vibremos com um brinde daquela que desce redondo o gol do baba que acompanhamos pela TV comprada na promoção da Casas Bahia - um luxo (Só ficaremos endividados no mínimo até dois anos; isso basta.).
Talvez o ímpeto de vitória seja o bastante e a transmissão do pensamento positivo nos faça receber uma taça ou uma cabeçada. E daqui a alguns meses, talvez anos, consigamos lembrar do adormecido: da morta santificada, da proteção torta e da prestação atrasada da TV pra pagar.
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(para entender a quase metáfora "tampas de cova", recomendo que leiam o texto "Teleanálise: A Face Relativa dos Mortos, de Malu Fontes, do Jornal A Tarde. É só clicar aqui.)

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